domingo, 26 de dezembro de 2010

Matéria com a Adriana na Revista Veja


Em um episódio do Legendário seriado cômico Jerry Seinfeld fala com ironia dos sentimentos antagônicos que o cabelo desperta: na cabeça é desejado e admirado; fora dela ( na salada por exemplo) é execrado. E no entanto uma legião de mulheres anda por aí ostentando cabelos alheios gruadados na própria cabeça, as extensões __ ou, na linguagem obrigatória dos salões de cabeleireiros, extensions ( aliás,  é bom nem falar em salão mas em studio; e de hair design, por favor). O exemplo parte lá de cima, do mundo das celebridades. Por necessidade profissional ou vaidade, o que praticamente é a mesma coisa, a maioria das famosas vive com dotes capilares turbinados, frequentemente de cabelos que atravessaram o País ou até deram volta ao mundo.

A atriz Adriana Birolli, 24 anos, cabelo natural pouco abaixo dos ombros, acaba de passar um mês e meio com uma juba até a cintura: 750 gramas, em mechas de 30 a 40 centímetros, lhe foram colocados na cabeça num processo que durou dez horas, para viver Anita Garibaldi no espetáculo A República em Laguna, encenado in loco. Não é uma coisa para ombros frágeis.

" Demorei uns três dias para encontrar uma posição para dormir. Depois de lavar, sentia muito o peso. Quando tirei, a sensação foi de leveza", descreve Adriana.

No mundo dos cabelos artificialmente incrementados, a escala mais simples é a dos apliques em forma de tiras, como franjas, que servem para dar mais volume. A aplicação é relativamente simples. Os cabelos naturais são divididos horizontalmente, em uma ou várias camadas, e os apliques fixados de orelha a orelha, por fivelinhas, no caso de uso temporário, ou entrelaçados com agulhas em pontos parecidos com os de crochê. É rápido e caro: de 1000 a 8000 reais em grandes salões, que usam cabelo de boa qualidade tingido no mesmo tom do da cliente. O truque é comum entre as modelos

" As brasileiras da Victoria Secret andam com essas extensões na bolsa.  Numa sessão de fotos, sempre pedem para colocar", conta o cabeleireiro Antonio de Biaggi. Para aumentar o comprimento e ter um resultado mais duradouro, como no caso de Adriana, o procedimento é colar mecha por mecha, em tufos de cerca de cinquenta fios, grudados com pistola de cola ou pinça térmica no cabelo natural em toda a parte de trás da cabeça. O processo pode demorar até cinco horas e separar a cliente de 10 000 reais.

No mundo pré-extensões, só era possível mudar ou incrementar a cabeleira com perucas, de efeito inevitavelmente artificial. O Brasil descobriu o método atual com a novela O Clone, de 2001, no invejado cabelão de Jade. Quem pôs o então chamado megahair na cabeça de Giovanna Antonelli foi a cabeleireira Luciana Alvarez, representante brasileira da maior de comércio de cabelos do mundo, a Great Lengths, criada por um inglês e baseada na Itália. " A empresa foi atrás do homem que tingia cashmore para as maiores marcas europeias e desenvolveu com ele uma técnica para colorir os cabelos ", diz Luciana. A Great Lengths é uma potência global , quase um cartel de cabelos, dominando 60% do comércio do ramo no mundo. Os cabelos vêm da Índia, de templos onde pelo menos uma vez na vida mulheres tosam as longas cabeleiras naturais em sinal de devoção e agradecimento aos deuses. A prática hinduísta foi transformada em fonte de renda para os templos e de negócio globalizado para os líderes do setor. " Compramos 4000 toneladas de fios nos templos por ano", diz Thomas  Gold, diretor da Great Lengths. Os cabelos, em geral virgens, ou seja, sem tinturas, são separados por tamanho e reunidos  em mechas. Passam vinte dias mergulhados em substâncias para perder toda a cor e depois receber as novas tonalidades.

Um requisito indispensável da boa extensão é que o cabelo todo tenha o mesmo sentido, com pontas e raízes nos respectivos lados, para não misturar as minúsculas escamas, que formam as partes externas dos fios. " Quando essas escamas são coladas de maneira invertida, os cabelos embaraçam de um jeito horroroso, diz Biaggi. O ideal é que as mechas de cabelo aplicadas em uma cliente venham todas de uma mesma pessoa, de forma a manter a homogeneidade. Parece impossível, mas fornecedores diferenciados  como a Paulistana Viviam Sztejnhauer, que abastece alguns dos salões mais concorridos de São Paulo, dizem sequir todos os requisitos. " Meus cabelos vêm exclusivamente de meninas que moram em cidades pequenas do Sul do Brasil", diz ela. " São presos em mechas por pequenos elásticos e cortados. Em sequida, cada mercha é fervida em cloro para tirar a oleosidade, hidratada e escovada para embelezar a apresentação. " Um cabelo longo e bem cuidado é comprado por até 100,00 ou até menos. Em São Paulo, depois de tratado, é vendido ao salão por cerca de 2000 reais. São cabelos equivalentes aos encontrados na Rússia e na Ucrânia, dois mercados fornecedores em escala global. Castanho-claro ou loiro, o que facilita o tingimento, também tem a expessura média ideal. Os muitos finos embaraçam e os grossos, como é o caso dos chineses, não se mesclam bem a quase nenhum outro tipo de cabelo.

Os maiores mercados são Estados Unidos, Itália e Alemanha. Embora, o pacote ascendente __ implante nos seios, bolsa "de grife" e extensões até a cintura __ pareça onipresente, um mês de aplique no Brasil, equivale a um dia do mercado americano. O calor e o hábito das lavagens frequentes aumentam os desconfortos. " Nos primeiros dias, o couro cabeludo fica muito colorido. É chato até para receber cafuné do marido, porque os dedos enroscam", diz a cantora Claudia Leitte. O esforço tem suas compensações." Faço qual mulher ser notada, em qualquer momento", orgulha-se o "rei das extensões" do Rio, Flávio Priscott, que incrementou a cabeleira modesta da linda Isis Valverde para a novela tititi. " Em separação, é típico. Elas chegam aqui caidinhas e falo logo: " vou te mostrar como teu marido vai te ver daqui pra frente.' Os olhos delas brilham." Jerry Seinfeld com certeza iria  fazer irônicas gracinhas a respeito.

matéria de Juliana Linhares - Revista Veja!

Nenhum comentário: